NA MOSCA! #12 – Explorando o filme “Metrópolis” de Fritz Lang

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Lembram do post que eu fiz sobre o Teatro Óptico de Émile Reynaud? A dica da semana é parecida: vou indicar outro tour virtual do site da Cinemateca Francesa! Dessa vez é sobre o robô do filme “Metrópolis” (Fritz Lang, 1926).

metropolis

Como no final do filme o robô é queimado (e foi, de fato, queimado nas filmangens), só existem hoje as réplicas. Uma delas está na Cinemateca Francesa (vi outra na Deutsche Kinemathek de Berlim). O tour mostra um pouco como ela foi feita e fala também do robô original, que foram feitos pelo mesmo escultor.

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A principal diferença entre o robô do filme e as cópias é que o primeiro era uma espécie de roupa, já que a atriz Brigitte Helm tinha que caber dentro! A cópia tem um manequim por dentro, para fortalecer a estrutura.

metropolis2

Mas toda essa parte do tour, apesar de interessante, não é o mais legal…

A minha dica é explorar a seção about the work, que trata da restauração do filme.

Uma cópia em 16mm, muito danificada, foi encontrada em Buenos Aires. No começo ninguém deu muita atenção a isso, mas quando a película chegou na Alemanha, os pesquisadores envolvidos na preservação do filme perceberam que se tratava de um achado valiosíssimo. O filme foi restaurado e, a partir dessa cópia, um quarto do filme foi recuperado. É como diz Paolo Cherchi Usai, um dos mais importantes pesquisadores da área: os filmes podem ser encontrados em qualquer lugar, quando menos se espera…

Vale a pena conhecer um pouco mais sobre esse caso, que nos ajuda a entender que o filme é um objeto sempre múltiplo e complexo. E que o cinema antigo, ao contrário do que muitos pensam, está em constante transformação!

O site está disponível em inglês e francês. Para acessar é só clicar aqui.

Todas as dicas da semana podem ser vistas na série na mosca.

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NA MOSCA! #11 – Europa Film Treasures

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A dica dessa semana é, como em muitas outras semanas, filmes para assistir online!

O Europa Film Treasures era o site mais legal da internet (pelo menos para mim!). Era um acervo gigantesco de filmes de cerca de 30 arquivos europeus diferentes, onde era possível pesquisar por década, gênero etc… Os filmes tinham boa qualidade e cada um era acompanhado de textinhos preciosos, cheios de informações interessantes. A parte triste é que o site, que era mantido pela Lobster Films, está fora do ar desde o ano passado.

Mas, recentemente, uma pequena parte daquele acervo maravilhoso passou a ser disponibilizado novamente em forma de curadorias semanais no site do canal de TV francês ARTE.

Na primeira semana, o tema foi viagem. Meu destaque vai para “Un voyage en aéroplane avec Wilbur Wright à Rome” (1909). Foi a primeira vez (ou uma das primeiras vezes, hehe) em que se filmou de um avião. O resultado é uma phantom ride emocionante!

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Mais sobre phantom rides aqui.

Na segunda semana, o tema foi cor. Meu destaque vai para “Le moulin maudit” (1909). Não é à toa que as cores da Pathé são tão famosas…

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Mais sobre cor aqui. Ah, já falei sobre o filme “Le Moulin maudit” neste post.

Na terceira semana, o tema foi Méliès e outros “magos” do cinema. Meu destaque vai para “L’Araignée d’or” (1909). Tem cenas muito lindas e divertidas em stop motion:

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Para ver todos os filmes, clique aqui. O site é em francês.

Estou curiosa para saber o que está reservado para as próximas semanas!

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NA MOSCA! #10 – “A contadora de filmes”

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A indicação desta semana é o pequeno livro “A contadora de filmes” (2009) do escritor chileno Hernán Rivera Letelier, lançado no Brasil pela editora Cosac Naify.

O livro trata de um povoado de mineiros no deserto chileno do Atacama pelo olhar da menina Maria Margarida, eleita a melhor contadora de filmes de sua família. Sempre que podiam pagar, ela ia sozinha para o cinema da cidade e, quando voltava, encontrava seu pai e seus irmãos todos arrumados, prontos para assisti-la. Suas interpretações, que incluíam todas as cenas, diálogos e detalhes dos filmes, ficam famosas na vila e uma multidão passa a se reunir para vê-la.

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“A contadora de filmes”

Tudo isso é narrado pela própria menina, que se dirige ao leitor como se falasse para um público, do mesmo jeito que narrava os filmes.

É um texto simples, mas muito instigante. Quando li esse trecho, reproduzido na quarta capa, não pude resistir a comprar o livro:

Certa vez li por aí, ou vi num filme, que quando os judeus eram levados pelos alemães naqueles vagões fechados, de transportar gado – com apenas uma ranhura na parte alta para que entrasse um pouco de ar -, enquanto iam atravessando campos com cheiro de capim úmido, escolhiam o melhor narrador entre eles e, subindo-o em seus ombros, o elevavam até a ranhura para que fosse descrevendo a paisagem e contando o que via conforme o trem avançava.
Eu agora estou convencida de que entre eles deve ter havido muitos que preferiam imaginar as maravilhas contadas pelo companheiro a ter o privilégio de olhar pela ranhura.

É um livro essencialmente sobre cinefilia, mas é também o relato de diversas formas de violência, que a garota sofre por ser mulher e por ser pobre. Há poucas referências ao cinema mudo, mas ainda assim achei que seria bacana indicar aqui no blog. Através do relato de uma contadora de histórias em um povoado isolado, o livro nos faz lembrar da importância da experiência coletiva do cinema.

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A Lorota aprova!

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NA MOSCA #9 – a lanterna mágica de “No caminho de Swann” (Marcel Proust, 1913)

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A dica dessa semana é o acervo de lanternas mágicas da Cinemateca Francesa, que possui cerca de 17 mil peças de diversos países e inúmeros temas. Parte desse repertório está disponibilizada em um site, que está dividido em quatro coleções:

Life Models – placas feitas a partir de fotografias e pintadas à mão, que surgiram em 1870 na Inglaterra;
Royal Polytechnique – uma instituição londrina do século XIX conhecida pela inigualável qualidade de suas placas feitas à mão;
Lapierre – placas de Auguste Lapierre, que fizeram muito sucesso na França do século XIX;
Plaques animées – que são placas de movimento mecânico dos séculos XVIII e XIX.

Toda a coleção vale a pena ser explorada, é claro, mas a minha dica está na seção Lapierre: são as placas descritas por Marcel Proust no primeiro volume de “Em busca do tempo perdido“, No caminho de Swann (1913). Alguns poderão se lembrar que logo no começo do livro encontramos a descrição de uma projeção de lanterna mágica dentro do quarto do protagonista. Aí vai um trecho da cena:

Todos os dias em Combray, desde o final da tarde, muito antes do momento em que deveria ir para a cama e ficar, sem dormir, longe de minha mãe e de minha avó, o quarto de dormir tornava-se o ponto fixo e doloroso de minhas preocupações. Bem se haviam lembrado, para distrair-me nas noites em que me achavam com um ar muito melancólico, de presentear-me com uma lanterna mágica, com a qual cobriam minha lâmpada, enquanto não chegava a hora de jantar; a lanterna, à maneira dos primeiros arquitetos e mestres vidraceiros da idade gótica, sobrepunha, à opacidade das paredes, impalpáveis criações, sobrenaturais aparições multicores, onde se pintavam legendas como em um vitral vacilante e efêmero. Mas com isso ainda mais crescia minha tristeza, pois a simples mudança de iluminação destruía o hábito que eu tinha de meu quarto, e graças ao qual este se me tornava suportável, descontado o suplício de ir deitar-me. Agora já não o reconhecia e sentia-me inquieto como em um quarto de hotel ou de chalé, aonde tivesse chegado pela primeira vez, ao desembarcar de um trem.

Depois disso, o narrador descreve um pouco a história de Geneviève de Brabant. Segundo a Cinemateca Francesa, as placas descritas por ele são estas:

1-2

Geneviève, filha do Duque de Brabant, se casa com o senhor Siffroy.

3-4

Mas, logo depois do casamento, Siffroy precisa ir para a guerra.

5-6

Antes de partir, ele confia seu reino ao mordomo Golo. Este tenta em vão seduzir Geneviève e, em seguida, por conta de sua recusa, ele decide jogar a moça na prisão com um filho recém-nascido, acusando-o de ser o resultado de um adultério.

7-8

Siffroy ouve a notícia e, enfurecido, ordena a morte de Geneviève e seu filho.

9-10

Mas Golo não consegue matá-los e abandona Geneviève e o bebê na floresta. Geneviève se refugia, então, em uma caverna e alimenta seu filho com o leite de uma corça. Um dia, ao sair para caçar, Siffroy persegue a mesma corça e encontra a caverna onde está Geneviève.

11-12

Siffroy entende seu erro e executa Golo. Geneviève e seu filho voltam a viver no palácio, onde levam uma vida pacífica.

Depois o narrador de “No caminho de Swann” continua:

Certamente achava eu um especial encanto naquelas brilhantes projeções que pareciam emanar de um passado merovíngio e passeavam em redor de mim tão antigos reflexos de história. Mas não posso descrever que mal-estar me causava aquela intrusão do mistério e da beleza em um quarto que eu acabara de encher com minha personalidade a ponto de não dar mais atenção a ele do que a meu próprio eu. Cessando, assim, a influência anestésica do hábito, punha-me então a pensar e a sentir: coisas tão tristes. Aquela maçaneta da porta de meu quarto, que se diferenciava para mim de todas as maçanetas de porta do mundo, pelo fato de que parecia abrir-se por si, sem que eu tivesse necessidade de torcê-la, de tal modo se me tornara inconsciente seu manejo, ei-la que servia agora de corpo astral a Golo. E assim que tocavam a sineta para o jantar, apressava-me em correr ao refeitório, onde todas as noites esparzia sua luz a grande lâmpada de teto, que nada sabia de Golo nem de Barba Azul, e que conhecia meus pais e o assado de caçarola; e caía nos braços de mamãe, a quem as desgraças de Geneviève de Brabant me tornavam mais querida, ao passo que os crimes de Golo me faziam examinar com mais escrúpulo minha própria consciência.

Ainda segundo o site da Cinemateca Francesa, a lanterna que aparece na cena seria do tipo Lampascope, que era uma lanterna mágica para projeção caseira acoplada a uma lâmpada de querosene.

lampascope

O site da Cinemateca Francesa ainda tem textos sobre história da lanterna mágica e vários links relacionados. Vale a pena clicar!

As descrições das placas foram traduzidas por mim a partir dos textos do site da Cinemateca Francesa. Os trechos do romance de Proust foram retirados da tradução de Mario Quintana.

Também postei sobre lanternas mágicas aqui.
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NA MOSCA! #8 – há cem anos, começava a guerra

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A dica dessa semana é uma mostra virtual criada pelo European Film Gateway, um portal que reúne o acervo online de diversos arquivo e cinematecas europeias. European Film and the First World War foi criada para o centenário da eclosão da Primeira Grande Guerra, em 1914, e os filmes e conteúdos foram cedidos por instituições como Cineteca di Bologna, Deutsche Kinemathek, EYE Film Institute, Cinémathèque Royale de Belgique e muitos outros.

europeanfilmgateway_1914

As diferentes seções da exposição virtual.

A mostra está dividida em sete partes, como é possível ver na imagem acima. Em cada uma delas, você encontra uma série de filmes, fotografias, textos e cartazes de época. É super fácil de navegar! E também dá para ver o conteúdo todo em uma linha do tempo, clicando em Chronology. Aí vão algumas das coisas mais interessantes que eu encontrei lá:

Da seção Film and Propaganda, a animação “Das Säugetier” (1916) é bem interessante… Uma personagem se transforma de polvo para criar uma metáfora da Inglaterra vista pelos olhos alemães. Nessa parte sobre propaganda também tem filmes sobre a resistência.

dassaugetier

Das Säugetier (1916, Alemanha)

Na seção At the Front estão dispoíveis algumas fotografias de Wolfgang Filzinger, um cinegrafista que escreveu um artigo para uma revista alemã de cinema em 1915 sobre as dificuldades de se filmar no front. Segundo ele, além de lidar com lentes lentas e câmeras e tripés pesados, os cinegrafistas tinham que se esconder dos inimigos e dos próprios aliados, que quando percebiam que estavam sendo focalizados se viravam para as câmeras e acenavam, tornando impossível que as imagens fossem depois consideradas autênticas. Para esperar um motivo interessante, como uma explosão de granada, por exemplo, os operadores de câmera tinham que passar longos períodos na zona de perigo… Por isso precisavam ser pessoas familiarizadas com os procedimentos militares.

wolfgang filzinger

Wolfgand Filzinger e sua câmera.

E, para terminar meus destaques, a seção Science and technical innovation mostra, entre outras coisas, as mulheres na guerra. São vídeos, fotos e textos que mostram o trabalho delas na indústria de armas.

mulheres na guerra

Então essa foi a dica da semana… E não deixem de explorar a mostra virtual European Film and the First World War!

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NA MOSCA! #7 – o filme perdido de Orson Welles agora online

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Uma das sessões mais importantes (e, para mim, mais marcantes) da Giornate del Cinema Muto do ano passado foi a estreia mundial do filme inacabado de Orson Welles, “Too much Johnson” (1938). O filme, que era considerado perdido até então, foi encontrado em 2013 em um depósito de Pordenone, na Itália (a mesma cidade onde acontece a Giornate!).

Too much Johnson” era originalmente um conjunto de 3 curtas que Welles pretendia usar para abrir cada um dos 3 atos de uma peça homônima que ele estava produzindo no Mercury Theater, um teatro em Nova Iorque que ele fundou em 37. A peça era uma farsa de 1894 de William Gillette. O teatro não tinha a estrutura necessária para exibir filmes, então a peça estreou sem os prólogos e os curtas ficaram inacabados, sem nunca terem sido exibidos.

O responsável pela restauração foi Paolo Cherchi Usai, co-fundador da Giornate del Cinema Muto de Pordenone e Curador Sênior na George Eastman House, em Nova Iorque.

too_much_johnson_online

A sessão foi muito interessante porque, como é um filme inacabado e que foi pensado para a projeção durante uma peça de teatro, o próprio Paolo Cherchi Usai acompanhou a projeção com comentários e explicações. Foi uma sessão atípica em Pordenone: o nome de Welles despertou o interesse de muitos moradores da região, que não costumam frequentar o festival. O pesquisador criou, então, uma apresentação para o filme que levava em conta a presença desse público “não-especializado”, como ele mesmo chamou, na sessão do Collegium do dia seguinte, quando respondeu a questões do nosso grupo de jovens estudantes sobre a restauração e a sessão.

Além de explicar a história da peça, detalhes de produção e falar sobre as locações do filme, Cherchi Usai também chamou atenção para o que mais nos interessa, os aspectos formais do filme… Sobre isso, eu escrevi dois posts (sobre as referências que o filme faz ao período mudo e sobre o processo de restauração), que podem ser podem ser visualizados aqui.

A dica dessa semana tem a ver com uma ótima notícia… O filme está, agora, disponível para assistir online! Para ver, é só clicar na imagem abaixo:

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A dica dessa semana foi dedicada àqueles meus amigos que às vezes me perguntam se ainda surgem novidades no mundo do cinema antigo. Pois é, todos os dias novos filmes são redescobertos e esses achados transformam constantemente a história do cinema! :)

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NA MOSCA! #6 – Festival Internacional de Curtas Metragens de SP

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A dica dessa semana tem a ver com aquele texto que eu escrevi para outro post, sobre o curta “E” (Alexandre Wahrhaftig, Helena Ungaretti, Miguel Antunes Ramos, 2014). Como eu disse, esse filme tem muito a ver com as phanton rides, que surgiram no primeiro cinema, no contexto do filme de viagem. Independente da relação com o primeiro cinema (que tem muito a ver com o meu olhar em relação ao filme, já que eu estou estudando esse tema), acho o curta muito bom e muito importante para a discussão acerca da especulação imobiliária.

Cena do curta “E” (2014).

O filme será exibido no Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, o Kinoforum, nos seguintes dias e horários:

quinta, 21/agosto, 21h – Espaço Itaú de Cinema
domingo, 24/agosto, 17h – MIS
terça, 26/agosto, 17h – Espaço Itaú de Cinema
domingo, 31/agosto, 19h – Cine Olido

Sinopse: Estacionamento. Es-ta-cio-na-men-to. Do latim, statio. Ficar de pé, ficar parado.

Para saber mais sobre o filme, clique aqui para ler a crítica da Revista Cinética e aqui para acessar o texto que eu postei no blog a respeito. É um curta imperdível!

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NA MOSCA! #5 – explorando o Teatro Óptico de Émile Reynaud

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A dica dessa semana não tem nada a ver com uma notícia ou uma novidade. Mas se você ainda não conhece, não deixe de clicar! É um tour virtual sobre o Teatro Óptico de Émile Reynaud. O site, feito pela Cinématèque Française em 2009, é repleto de vídeos e imagens sobre o aparelho e está disponível em inglês e francês.

O Teatro Óptico, inventado por Reynaud em 1888, era um aparelho que possibilitava a projeção de imagens animadas. Era como uma mistura de lanterna mágica e praxinoscópio (que também tinha sido inventado por ele 11 anos antes). Em 1892, ele começou a exibir suas primeiras animações no Musée Grevin, em Paris: Pauvre Pierrot, Clown et ses chiens e Un bon bock. Foi só depois de cerca de 13 mil sessões, em 1900, que as Pantomimes Lumineuses de Reynaud pararam de ser exibidas.

musee grevin 1892

Musée Grevin em 1892, Paris.

O tour mostra o funcionamento do Praxinoscópio, do “Teatro Praxinoscópio” e, claro, do Teatro Óptico. É muito interessante ver de perto como são esses aparelhos… As tiras desenhadas do Teatro Óptico, por exemplo, tinham perfurações muito parecidas com as que a película de filme terá alguns anos depois. Olha só como funcionava:

emile reynaud

Projeção de lanterna mágica (para o cenário fixo), jogos de espelhos e as tiras flexíveis com imagens transparentes que mostram diferentes poses das personagens: é a partir desses elementos que o espetáculo é feito! Uma das principais conquistas do Teatro Óptico foi ir além da tira com um número limitado de imagens (como era no Zootrópio, Praxinoscópio etc., que eram brinquedos circulares, cujas imagens eram animadas em loop). As tiras do novo invento podiam ser longuíssimas! O loop não deixa de ser importante, claro (os filmes feitos para o Kinetoscope de Edison, por exemplo, são “circulares” – é só lembrar da Dança Serpentina), mas o comprimento indefinido das tiras de Reynaud permitiu que as animações pudessem ser mais longas.

No final do tour também é possível assistir a algumas animações e a algumas tiras de praxinoscópio:

praxinoscopio reynaud

Então essa foi a dica desta semana: clique aqui e aproveite o tour pelas invenções de Reynaud. Recomendo a opção guided tour!

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NA MOSCA! #4 – o cinema 100 anos atrás

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A dica dessa semana tem a ver com o lançamento do filme inglês “A night at the cinema in 1914“, que é uma compilação de curtas de 1914 feita pelo BFI (British Film Institute), com curadoria de Bryony Dixon. É um típico programa de variedades da época, com comédia, drama, noticiário e travelogue… Uma iniciativa como essa é muito importante porque nós costumamos assistir aos filmes antigos em situações artificiais: um festival de cinema, por exemplo, cria programas longos com filmes de um mesmo gênero e a platéia é repleta de especialistas. Não é assim que o cinema era visto na época! Claro que jamais conseguiremos reproduzir exatamente a experiência do passado – isso nem teria sentido! Mas tentar se aproximar do modo como nossos bisavós (ou tataravós!) assistiam filmes pode ser muito produtivo para as pesquisas sobre o espectador de cinema das origens. E, claro, pode ser muito divertido!

A música foi criada e improvisada por Stephen Horne, músico inglês que é considerado um dos melhores no mundo do cinema mudo! O filme estreou em Londres na semana passada e, infelizmente, não deve chegar às telas brasileiras. Olha só o trailer:

.
Mas esse post não é sobre o trailer de um filme que a gente não pode ver! :)

O BFI lançou recentemente um site chamado 1914 on film, que disponibiliza cerca de 60 filmes britânicos feitos naquela data, 100 anos atrás! Então essa é a minha dica da semana: explorar o site e tentar sentir um pouco como era o cinema da época.

Duas sugestões para começar:

The Magic Glass (Hay Plumb, 1914)

the magic glass

Um inventor excêntrico cria uma lente de aumento que pode ver através de portas e paredes. Os planos que mostram o ponto de vista da lente são atrações em si, claro. Mas é interessante notar que esse tipo de filme, comum no primeiro cinema, parece passar a usar esses planos com função mais narrativa do que de atração… Um típico exemplo de comédia que faz graça com invenções malucas!

Egypt and her defenders (1914)

egito

Um travelogue tingido com vistas do Egito. Tem várias imagens das atrações turísticas, mas vale mais pelos planos do povo, principalmente os trabalhadores no porto, que aparecem logo no começo do curta.

Então essa foi a dica dessa semana… E tá aqui o link do site de novo para você não deixar de clicar!

***

Se você entrar lá e não conseguir dar play nos filmes (aparece a mensagem “Este vídeo não está disponível para a sua localidade”), sugiro o seguinte:
– use o navegador Google Chrome;
– baixe o aplicativo “Hola” na Chrome Web Store (para baixar, clique aqui);
– acesse o site 1914 on film e escolha algum vídeo para assistir;
– clique no ícone do aplicativo “Hola” (fica no canto superior direito, é uma carinha feliz) e escolha a bandeira do Reino Unido (UK);
– pronto! dê play novamente e o vídeo deve funcionar! isso serve para qualquer site que não permite a visualização de vídeos por conta a localização de acesso!

Todos as dicas da semana podem ser vistas na tag na mosca.

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NA MOSCA! #3 – “The Grand Budapest Hotel”

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A dica dessa semana é o novo filme de Wes Anderson, “The Grand Budapest Hotel“. Pode parecer um dica um pouco estranha, já que o filme estreou no Brasil em abril, muita gente já viu e comentou. Mas eu escolhi sugerir esse longa como dica da semana por um motivo bem específico.

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Maquete do hotel que dá título ao filme

O filme é o mais cinéfilo da carreira de Wes Anderson e tem várias referências ao cinema antigo (algumas cenas são, inclusive, feitas em janela 4×3). Mas eu gostaria de chamar atenção para alguns planos do filme, principalmente aqueles em que o hotel é visto de longe e de frente. É que foram usadas maquetes para essas cenas. Claro, maquetes são usadas o tempo todo no cinema, e estão presentes durante toda a sua história. Mas as de “The Grand Budapest Hotel” foram uma surpresa especial para mim, que logo reconheci a referência ao primeiro cinema, mais particularmente aos filmes de fantasia de Georges Méliès. Esse tipo de maquete não quer ser realista, é justamente o aspecto de “mundo de fantasia”, de cenário, que é salientado. O fundo pintado à mão (que, mesmo tendo sido colocado na pós-produção, parece pintado), os pequenos objetos que se movem… Tudo isso ajuda a criar essa atmosfera de artificialidade.

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Detalhe da maquete de “The Grand Budapest Hotel”

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Cena de “Le voyage à travers l’impossible” (Georges Méliès, 1904)

É claro que o filme tem muitos efeitos especiais digitais também. Mas esse tipo de “cinema de brinquedo”, que valoriza a construção de cenários reais, mas sem a intenção de ser realista, me interessa muito. E esse é um dos motivos pelos quais eu amo tanto o primeiro cinema (e os filmes de Wes Anderson)!

Então essa é a dica dessa semana: prestar atenção nos cenários em miniatura de “The Grand Budapest Hotel” de Wes Anderson!

A Revista Cinética publicou um texto interessante sobre o filme, mas que enfatiza mais seus aspectos narrativos.
E o filme segue em cartaz aqui em São Paulo em muitas salas…

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NA MOSCA! #2 – cinema mudo latino-americano

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A dica dessa semana é a programação do Ciclo de Cinema Silencioso organizado pelo Cineclube Latino-Americano que vai rolar no contexto do 9º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, no Memorial da América Latina. O Festival começa nesta quinta (24/julho/2014) e vai até a próxima quarta (30/julho/2014).

Festival Latino

A programação do Ciclo, organizada pelo Cineclube sobre o qual já falei aqui, está maravilhosa e simplesmente imperdível. Todos os filmes terão acompanhamento musical feito ao vivo [*] e a mostra ainda conta com duas oficinas, uma sobre música para Cinema Mudo, com o pianista mexicano José María Serralde Ruiz, e outra sobre como criar um Cineclube, com um cineclubista que é referência para o movimento, Frank Ferreira. Aí vai a programação e depois o meu destaque:

24/julho, quinta
16h Oficina “Música para Cinema Mudo” com José María Serralde Ruiz
20h “El Húsar de la Muerte” (Pedro Sienna, Chile, 1925, 60′), acompanhamento musical de Allen Alencar, Daniel Brita, Ivan Gomes e Pablo Mendoza

25/julho, sexta
16h Oficina “Música para Cinema Mudo” com José María Serralde Ruiz
20h “La Virgen de la Caridad” (Ramón Peón, Cuba, 1930, 72′), acompanhamento musical de Jorge Peña

26/julho, sábado
10h Oficina “Música para Cinema Mudo” com José María Serralde Ruiz
16h Conclusão da oficina “Música para Cinema Mudo”
19h “Da ditadura de Huerta à rendição de Pancho Villa” com apresentação de Aurélio de los Reyes e acompanhamento musical de José María Serralde Ruiz <- esse é o meu destaque, veja abaixo!
21h “Yo perdí mi corazón en Lima” (Alberto Santana, Peru, 1933, 47′), acompanhamento musical da Banda Araticum

27/julho, domingo
18h Lançamento do livro “A Música no Cinema Silencioso no Brasil” de Carlos Eduardo Pereira, com a presença do autor
20h “El Automóvel Gris” (Enrique Rosas, México, 1919, 117′)

28/julho, segunda
16h Oficina “Criar um Cineclube” com Frank Ferreira
20h “La Borrachera del Tango” (Edmo Cominetti, Argentina, 1928, 80′), acompanhamento musical de Tadeu Romano e Pablo Mendoza

29/julho, terça
16h Oficina “Criar um Cineclube” com Frank Ferreira
20h “Lábios Sem Beijos” (Humberto Mauro, Brasil, 1930, 72′), acompanhamento musical de Joel Lourenço, e “Fragmentos da Vida” (José Medina, Brasil, 1929, 40′), acompanhamento musical de Carlos Eduardo Pereira

30/julho, quarta
16h Oficina “Criar um Cineclube” com Frank Ferreira
20h “Bajo el cielo Antioqueño” (Arturo Acevedo Vallarino, Colômbia, 1925, 98′), acompanhamento musical de Pablo Mendoza

[*] Com exceção de “O automóvel Cinza”, uma versão dublada feita em 1933 pelo diretor.

Toda a programação vale a pena, mas vou enfatizar a importância da exibição do dia 26, sábado, às 19h. Já falei bastante aqui no blog sobre o pesquisador mexicano Aurelio de los Reyes. Ele foi o responsável pela curadoria da programação mexicana que vimos na Giornate del Cinema Muto de Pordenone, em outubro do ano passado. Foram três programas diferentes: desde curtas feitos pelos enviados dos Lumière em 1896, passando por filmes da época de Madero (começo dos anos 1910) e chegando até as imagens da revolução armada de Zapata e Villa (com filmes de 1913-1923).

Tê-lo aqui no Brasil apresentando uma sessão é uma oportunidade única!

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Aurelio de los Reyes com o Prêmio Jean Mitry em Pordenone (outubro/2013)

As sessões mexicanas de Pordenone foram maravilhosas, não só pela possibilidade de ver essas imagens recém encontradas, mas também pelo precioso acompanhamento musical de José María Serralde Ruiz, um pianista apaixonado e muito competente. Foi uma das pessoas mais especiais que eu conheci no Festival. Ele levou um tipo de música que a Europa não está acostumada a ouvir… Música mexicana tradicional que era ouvida na época dos filmes…

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Eu e José em Pordenone em algum intervalo entre sessões! (outubro/2013)

A sessão com filmes da revolução mexicana apresentados por Aurélio de los Reyes e música ao vivo de José María Serralde Ruiz é, para mim, o destaque desse Ciclo.

Dia 26, sábado, às 19h, no Cineclube Latino-Americano!
Memorial da América Latina – Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 –  Barra Funda, São Paulo – Página do Cineclube no Facebook

[A inscrição para a oficina de José María Serralde Ruiz deve ser feita pelo e-mail pablomendoza83@gmail.com e a inscrição para a oficina de Frank Ferreira é pelo site do Festival.]

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NA MOSCA! #1 – lanternas mágicas

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Hoje vou começar uma nova série de posts aqui no blog. NA MOSCA! vai ser um post semanal em que eu vou dar alguma dica relacionada ao mundo do cinema silencioso e, em especial, ao primeiro cinema. Pode ser a indicação de um livro, um blog, uma sessão de cinema ou mostra, exposição, link do Youtube… Enfim, qualquer coisa que eu achar interessante o suficiente para indicar para vocês! Todos os posts da série poderão ser visualizados na tag na-mosca.

Para esse primeiro post escolhi um dos meus sites preferidos. Na verdade já comentei brevemente sobre esse site aqui no blog, mas é tão bom que eu acho que vale… É a coleção online de placas de lanterna mágica do Museo Nazionale del Cinema, que fica em Turim, no norte da Itália. Esse museu é famoso por ter uma das melhores coleções de pré-cinema do mundo! Mas quem ainda não teve a oportunidade de conhecê-lo (eu, por exemplo!), pode se deliciar explorando o seu site.

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Minha dica é ir em CATALOGO ONLINE DELLE COLEZIONE, na barra à esquerda. Depois clicar em Vetri per lanterna magica. E escolher a opção Ricerca per immagini fisse e animate. Claro que as placas fixas (“Immagini fisse”) são muito interessantes… Mas o mais massa mesmo é ir em “Immagini animate”, ou seja, placas de lanterna com movimento. São vários os tipos: movimento horizontal, vertical, circular etc.

lanterna_movimento_peixes

Placa de lanterna com movimento circular, do final do século XIX.

Depois de escolher o tipo de movimento (se o italiano não ajudar, não tem problema, vai clicando em qualquer opção que todas valem a pena!) é só escolher as placas para saber mais informações e ver as imagens em tamanho maior.

lanterna_movimento_orador

Placa com movimento combinado, também do final do século XIX.

A parte mais legal é que algumas têm a opção PLAY. É aí que a mágica começa! :)

Só resta clicar aqui e se divertir com essas animações do passado!

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