exposição “passagens por paris” no masp

Ainda faltam muitos posts sobre a Giornate del Cinema Muto do ano passado! Mas hoje vou escrever um postinho só para chamar atenção para uma obra exposta no MASP…

A exposição “Passagens por Paris – arte moderna na capital do século XIX” reúne obras do acervo do MASP de autores como Manet, Degas, Gauguin, Van Gogh, Renoir, Picasso e outros do período que vai de 1866 até 1948. Os curadores Teixeira Coelho e Denis Molino buscaram inspiração no ensaio “Paris, capital do século XIX” do crítico alemão Walter Benjamin (1892-1940), em que ele se refere às passagens, galerias comerciais de mercadorias de luxo que começaram a aparecer em Paris a partir da virada do século XVIII para o XIX.

O texto trata de diversos temas caros ao estudo das origens do cinema, como os panoramas, as exposições universais e o surgimento da fotografia.

A exposição em si é apenas um olhar para o acervo do MASP, coisa que estamos acostumados a ver. Mas uma obra me chamou atenção. Acho que eu nunca tinha reparado. É “A dançarina Loïe Fuller vista dos bastidores – A roda”:

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“A dançarina Loïe Fuller vista dos bastidores – A roda”, Henri de Toulouse-Lautrec, 1893

Achei o quadro muito interessante. Tem um grande contraste entre as cores claras usadas para retratar a dançarina e as cores escuras que prevalecem na plateia. Parece que ela irradia luz! Interessante também o ponto de vista, que mostra que Toulouse-Lautrec tinha acesso aos bastidores do espetáculo. As pinceladas rápidas, que apontam para todas as direções também chamam a atenção para o principal aspecto dos números de Loïe Fuller, o movimento.

A dança foi um tema muito importante para os primeiros filmes. São inúmeros os curtas que mostram danças populares, típicas ou consideradas exóticas. Mas nenhuma foi tão popular quanto a dança serpentina, inventada por Fuller em 1889. O número consistia na manipulação de porções gigantescas de tecido, que faziam parte de seu vestido. Luzes elétricas de diferentes cores eram projetadas sobre os panos, em constante movimento. Era como se sua roupa fosse uma tela.

Loie_FullerEm 1892 a americana foi para Paris e se apresentou no Folies-Bergère, onde foi aclamada por artistas, principalmente aqueles ligados ao simbolismo. Seu número foi admirado pela união entre arte e técnica e pela exploração do som e do ritmo. Era um espetáculo que trabalhava mais com a sugestão do que com a descrição. Ela era, no palco, uma imagem em movimento.

Por tudo isso, sua arte está ligada ao surgimento do cinema. E não é à toa que muitos dos primeiros realizadores capturaram essa imagem em seus filmes. Não encontrei referência precisa sobre filmes com ela mesma, mas muitas outras dançarinas a imitaram e muitos foram os filmes em que essa dança serpentina apareceu. Encontrei uma compilação interessante no Youtube que mostra diferentes cenas de diversos filmes que mostram o número, interpretado por muitas mulheres diferentes:

A tradução para o cinema de sua complexa iluminação foi feita com pintura à mão, uma técnica de produção de filmes coloridos muito popular no primeiro cinema.

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“Loïe Fuller aux Folies Bergères”, Henri de Toulouse-Lautrec, 1892

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“Loïe Fuller aux Folies Bergères”, Henri de Toulouse-Lautrec, 1892

Toulouse-Lautrec fez outros quadros sobre ela, como dá pra ver aí em cima. Mas não foi só ele que retratou a dançarina e suas formas esvoaçantes. Ela foi ligada à Art Nouveau, o estilo que esteve em voga na virada do século. Essas formas fluidas, que remetiam à natureza, eram caras aos artistas dessa corrente. Loïe Fuller serviu de inspiração para diversas obras… Essa luminária de bronze foi inspirada nela:

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François Raoul Larche, 1901

Vale a pena ir ao MASP para ver o quadro de Toulouse-Lautrec e se lembrar dessa mulher que foi tão importante para a dança, a arte moderna e o cinema. Ela era a técnica por trás de todo seu trabalho: criou a coreografia, a complexa iluminação etc. Mais uma mulher muitas vezes esquecida nas histórias do cinema…

E o próximo post será sobre outra pioneira: Alice Guy-Blaché!

(Mãe! Obrigada pela companhia na visita ao Masp!)

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Uma resposta

  1. Eu que sempre tive este prazer de passear pelo MASP com você desde que você era uma menininha… Te apresentei as artes do mundo e você soube muito bem como ficar íntima de todas elas. Te amo mais que tudo!!! Mãe.

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  2. Devia ser incrível assistir uma apresentação dela <3
    vendo o que temos hj já é apaixonante, acho que devíamos tentar reproduzir a dança serpentina e suas cores!

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